sábado, 8 de abril de 2017

Lágrimas

Olá, Tenho 12 anos e você pode me chamar de Julieta, que não é meu nome real mas é como se fosse. Diferentemente da maioria dos testemunhos que li nesse site, eu nunca tentei o suicídio. Mas isso não quer dizer que eu não pense nisso todas as noites.
Já tentei me cortar diversas vezes pois dizem que serve para aliviar os maus sentimentos. Entretanto nunca deu certo, por três motivos: 1) minha pele é muito difícil de perfurar, é como se fosse aço. 2) sempre fui fraca para dores físicas. 3) não posso correr o risco de meus pais verem.
Nunca tive uma vida tão ruim assim, por isso não vejo os mínimos motivos para sofrer dessa coisa, a palavra com D (não gosto de chamar de doença nem de dizer o seu nome). Meus pais são separados desde que tenho 5 anos de idade, mas nunca houveram grandes confrontos entre eles; inclusive, moro perto dos dois e eles me amam muito. Não sofri abusos, nem sofri tanto bullying assim (só um pouco na quinta e sexta série por ser meio deslocada, mas nada absurdo) e nem nada que me provocasse esses sentimentos.
E o que eu menos quero é atenção. As vezes eu só queria ter a minha própria casa, afastada de tudo e de todos, num lugar quieto em que eu simplesmente pudesse esquecer todas as vozes ao meu redor. A televisão ligada, minha avó tentando me fazer engolir uma religião que eu nem acredito, minha tia estudando em voz alta, minha mãe gravando áudios do Whatsapp, meu avô reclamando das dores nas pernas, meu pai brigando comigo por qualquer coisa que esqueci de fazer. Tudo, por menor que seja o volume, parece gritar na minha cabeça e eu não aguento mais. E eu devo ser masoquista, pois o único motivo de eu não ter pulado de um edifício até agora são essas mesmas pessoas. Minha família é um dos dois motivos pelo qual continuo viva, porque apesar de tudo não quero imaginar nenhum deles chorando por minha causa. E assim eu sigo derramando minhas lágrimas no lugar das deles.
O segundo dos motivos pelos quais não estou enterrada a sete palmos são os meus sonhos. Eu sou praticamente uma criança e quero ter a chance de fazer um futuro pelo menos um pouquinho melhor pra mim. Eu tenho sonhos. Ainda quero ter uma carreira legal, talvez no ramo do entretenimento porque gosto de fazer as pessoas rirem, ter uma casa na praia com muitos gatos e talvez encontrar um amor se for da escolha do destino. (E eu não quero te obrigar a nada, mas por que você não pensa nos seus sonhos de vez em quando, quando estiver muito triste? Isso me ajuda muito).
Além da palavra com D, tenho uma ansiedade muito forte, TDO (transtorno desafiador opositor), ataques de pânico por quase qualquer coisa e tendências anoréxicas. Não tenho amigos fiéis na vida real, mas tenho um Facebook fake onde tenho vários amigos virtuais (no caso, meu nome lá é Juliet [sim, sem o A no final], daí a origem do nickname). Eles me deixavam feliz, mas com o tempo minha melhor amiga Alasca começou a me esquecer, e meus outros dois amigos começaram a namorar e têm passado mais tempo conversando entre si do que comigo.
Enfim, provavelmente esse texto ficou grande demais porque é do meu feitio exagerar, então quero finalizá-lo. Obrigada (eu acho) por ler, e boa sorte com o que quer que você vá tentar pra se livrar dessa maldita palavra com D.
NickName: Julieta

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