domingo, 2 de abril de 2017

Capítulo 1. Começo, infância, divorcio.


Ola,
Não sei como chegou até aqui,
Mas quero lhe contar algumas histórias, mais precisamente, quero te forçar a sentir, a entender, o porque minha mente está tão devastada atualmente.
Essa não é minha primeira tentativa pra tentar me abrir, mas sinto que se não conseguir agora, não haverá uma "próxima vez".
Prefiro não me identificar, mas se você precisa de um substantivo para me associar, use Den. Então prazer, meu nome é Den.
Enfim apresentados, precisamos discutir 2 regras fundamentais para o andamento dessa narrativa, ou seja lá o que isso for...
1. Espero que considere meus erros de português, ou formato de escrita... Enfim, foda-se as regras,não estou aqui para seguir normas, estou aqui para te fazer entender algumas coisas. Caso esteja de acordo podemos prosseguir.
2. O que eu tenho a contar não é algo pesado como estupro ou assassinato de entes queridos, mas não menospreze minha dor,pois não é você que a sente.
Para entender como minha mente se partiu em milhares de pedaços, devemos voltar ao inicio, quando ela ainda era solida e radiante.
Radiante como luzes de uma televisão, principalmente quando tudo em volta esta no escuro, concorda comigo? Sim, me lembro desse dia, tinha 7 anos de idade e assistia novela sozinho no quarto dos meus pais, quando vi uma cena na novela: Um cara perfeito feliz segurando a mão de uma "adorável mulher".
Que perfeito não é? Também achei, mas logo a cena seguida, era uma mulher triste e com maquiagem borrada. O que me fez pensar qual seria a emoção mais nobre? a felicidade ou a tristeza? A primeira cena que mais me parecia um comercial de margarina, ou as lagrimas derramadas por uma situação de extremo desconforto? Sim, respondi a segunda, isso me assustou de certa forma, tanto que me lembro disso até hoje certo?
Seria normal para um garoto de 7 anos que sempre foi feliz na infância pensar isso? Bem, talvez ele não tenha sido feliz. Mas ele sempre teve tudo: casa,comida,cuidado,amor,atenção... o que pode ter gerado a preferencia por dor, uma visão bela do sofrimento? Não consigo lhe dar a resposta correta, mas consigo lhe dizer que parece que minha vida até hoje foi consequência dessa escolha.
Eu brincava sozinho no quintal,apesar de ter 2 irmãos de idades aproximadas. Lá estava eu no meio das arvores, vestido com roupas velhas,usando-as de fantasia para minhas próprias fantasias infantis. Era bem divertido e impressionante a minha distancia da realidade no meio dessas brincadeiras. Mas algo tinha que me puxar de volta para a realidade, mesmo que eu não a conhecesse tão bem naquela época.
Meu pai me chamou para subir para a sala, e assim que eu subia aqueles degraus em caminho a ele, eu percebi que meu irmão mais velho já estava sentado lá na frente do meu pai e minha mãe. Era uma conversa de família, achei estranho, pois nunca tivemos algo assim, meu irmão mais novo que entrou no recinto nem mesmo conseguiria entender o que aquilo significava.
Infelizmente eu entendi o que significava com o andar da conversa,apesar de poucos detalhes, a minha memória me permite lembrar de uma frase em específico:
"-Sua mãe e eu estamos brigando muito ultimamente e para evitar que a gente fique brigando, vamos nos separar um pouco, eu vou dormir no outo quarto e sua mãe vai continuar no quarto."
Antes que pudesse concluir a frase, meu irmão mais velho se disparou a chorar e soluçar, enquanto minha mãe abraçava ele e meu pai tentava conter as lágrimas.
Foi bastante confuso pra mim. Eu nunca soube o que era uma "conversa de família", assim como eu não sabia o que era separação, eu nem sequer sabia que existia essa opção para pai e mãe fazer.
Mas a altura do soluço do meu irmão e a explosão em lagrimas repentina, me fez acreditar que era sério, que aquele momento era o que impactaria em mim pro resto da minha vida, impressionante como mais uma vez eu estava certo.
Consigo imaginar você pensando que isso não é nada de mais... Que se os meus pais se juntaram para contar isso é porque eles me amam e se importam comigo a ponto de querer fazer todo o possível para eu não sofrer não é mesmo? claro, mas hoje é fácil e nítido pra mim, que o abraço do meu pai no meu irmão era um pedido de desculpas, não pela que havia ocorrido alí, mas pelo que virá a ocorrer nos próximos anos, todas as brigas, todas os palavrões gratuitos que meu pai usará para nomear nossa mãe, toda aquela carga de sentimentos ruins que ele trará para casa nos próximos anos. Hoje eu consigo entender aquele abraço como um simples pedido de desculpas por isso, por ter que enfrentar tudo isso. Irônico então que o abraço não tenha sido em mim? Talvez porque o pedido de desculpas não era. Eu teria que chorar para que me abraçasse também? Eu mereço um pedido de desculpas, ou eu não sou digno disso?Eu deveria teria que demonstrar sofrimento? Naquela hora eu não entendia o que estava por vir, e todas as lagrimas que eu não derramei naquele exemplo de reunião de familia perfeita, eu derramei depois, eu derramei o dobro do que precisava, dessa vez não na frente deles, mas sozinho no terraço da minha nova casa por anos e mais anos.
Eu me senti péssimo naquela reunião, parado, observando, assustado, confuso sem entender o que aquilo significa, o que estava por vir, porque meu irmão esta chorando? Porque meu pai tá abraçando ele? Porque ele disse que nos ama depois? por mais que me diga que ele vai dormir no outro quarto eu sei que existe muito mais por trás que a gente desconhece. Nunca vi brigas entre eles, então porque essa atitude?
Me sinto culpado de certa forma, por não ter chorado ali, por ser pequeno demais para entender o que estava acontecendo na minha frente,por não conseguir dizer pra eles: -se resolvam aqui por favor,porque depois quando decidir se divorciar, o orgulho de vocês vão impedi-los de reatar, gerando cansaço,ódio,frustações em relacionamentos futuro de ambos (o que realmente aconteceu) e eu sofrerei bastante durante o processo.
Os meses seguintes foram marcados por silencio e calmaria, meu pai chegava tarde e entrava no seu quarto pequeno, diferente, limpo e sério. Assim como ele era.
O almoço de domingo com a família paterna era antecedido por um pedido de confidencialidade sobre o estado atual de sua vida matrimônial.
Até que meu irmão menor se abriu com a vizinha que cuidava de nós, em uma noite que meus pais haviam saído.'
"-Eles se trancam no quarto as vezes", disse ele.
"-Eles brigam muito?" -Disse a vizinha preocupada.
Eu percebi que ela estava muito mais curiosa do que preocupada. Então insisti para que meu irmão parasse de falar, o que não foi atendido. Então mais uma vez eu fiquei ali, observando e pensando, como será que ele entendia essa situação mais do que eu? Tendo tão pouca idade, como será que ele via essas brigas? Como será que ele sabia ao certo o que é separação? Talvez seja porque eu nunca havia vivido no mundo real até então. Se eu não tivesse perdido tanto tempo fantasiado segurando gravetos como espadas, essa é a minha parcela de culpa, me ausentei tanto da realidade que quando tive a oportunidade de vivê-la, eu não a tinha mais. Quando tínhamos almoço com pai e mãe, eu estava imaginando dragões e bruxos, ou emburrado para sair da mesa. Quando me deu conta de quão engraçado era a trouxinha que meu pai fazia com alface e comida, ele não tinha mais paciência para fazer. Então vá em frente, jogue na minha cara que eu deveria ter aproveitado mais, aproveite porque nesse caso não iremos discordar.
E esse pai preocupado,carinhoso,engraçado e divertido... Morreu quando minha mãe arrumou nossas malas e nos levou embora de onde eu creci e considerava muito mais que um lar.
Por Denkit

Um comentário:

  1. Boa tarde, Den.
    Sei como é isso que vc esta passando. Pois me separei da minha esposa.. E sei que me filho sentiu muito com a separação.
    Algo que vc relata achei muito interessante e me identifiquei.. "o orgulho de vocês vão impedi-los de reatar, gerando cansaço,ódio,frustações".. Pois é, foi exatamente que aconteceu comigo e mais não deixo isso transparecer ao meu filho de 7 anos, para que ele não sofra,. Hoje eu tenho muitas crises de depressão, passo semana saindo de casa apenas para trabalhar...
    So desejo que o que eu estou passando seja válido no futuro e meu filho não sinta vestigios disso em sua alma.

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